PENSAMENTOS, DEVANEIOS E INQUIETAÇÕES

CRÔNICAS DO COTIDIANO, DO PONTO DE VISTA FEMININO,ARTÍSTICO, FILOSÓFICO, EMOCIONAL E SOCIOLÓGICO.

QUEM SOU EU...

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São Paulo, SP, Brazil
SOCIÓLOGA,HISTORIADORA, EDUCADORA E ARTISTA PLÁSTICA. Sou buscadora e curiosa por natureza. Sou bruxa, sem poções e crendices infundadas, observo e me integro à terra e aos seus movimentos. Amo a vida, os animais, plantas e a natureza. Solitária por vocação, pois nela busco forças e encontro repouso. Avessa aos ritos impostos e às convenções sociais, procuro a minha verdade. Sou arisca e desprezo dogmas, eles são a perdição da humanidade. Sou humana e falível. Busco o melhor de cada crença. deletando as manipulações. Amo o silêncio, a força da natureza e o equilíbrio cósmico, acho que sou inqualificável... Sou real e palpável, mas também sei ser etérea e indecifrável, se me convier. Amo o conhecimento, o mistério, as brumas da sensibilidade. Se quiser me conhecer melhor, siga-me...

BEM VINDOS!!!!!!

Sintam se à vontade nesse pequeno espaço onde compartilho minhas idéias, pensamentos, denuncio injustiças, lanço questionamentos, principalmente em relação ao universo feminino e toda a sua complexidade.
Minhas postagens são resultados de pesquisas na internet, caso houver algum artigo sem os devidos crédito, por favor me notifiquem para que eu possa corrigir uma eventual falta.
Obrigada por sua visita.

19 outubro, 2010

DONA YAYÁ - UMA VIDA DE TRAGÉDIAS E CLAUSURA


Casa da Dona Yayá


Histórico
(1870?-1888) José Maria Talon Provável proprietário do chalé de tijolos; a escritura de 1888 refere-se à construção como "Chalet de habitação", de quatro comodos, possivelmente construido em 1870, antes do Bixiga ser loteado, dentro de um terreno de 146 metros de comprimento à Rua Valinhos (hoje Rua Major Diogo,353). Ainda no mesmo terreno existiam cocheira e casa para empregados.
(1888-1902) Afonso Augusto Milliet considerado responsável pela transformação do chalé em casa de morada; corresponde ao período em que os ambientes receberam as primeiras decorações parietais;
(1902-1919) João Marques Guerra promotor da reforma que confere às fachadas características neoclássicas, quando os interiores são redecorados com pinturas artísticas parietais de estilo art nouveau. Em 1919 Guerra morreu e seus bens foram repartidos entre seus cinco filhos (sendo um deles considerado meio "louco"). A cada um coube um pedaço da chácara. Parte da propriedade foi vendida a Rodolfo Chiavarini (aproximadamente 500m2).
(1919-1921) Herdeiros de J. M. Guerra Em 1920 os irmão decidem alugar o casarão para Sebastiana de Mello Freire, milionária de 33 anos conhecida como D. Yayá. D. Yayá já era considerada insana, portanto os médicos aconselharam algumas reformas para abrigar a inquilina e as pessoas que cuidariam dela. Caberia a D. Yayá dois quartos, sala de banho e banheiro privativos.
(1921-1961) Dona Sebastiana de Mello Freire Em 1923 o imóvel foi vendido para Noemia Junqueira Neto que desmembrou a propriedade em cinco partes, vendendo em 1925 a porção de 2500 m2 para sua inquilina Dona Yayá, a herdeira interditada e última proprietária da casa. Logo novas reformas foram feitas: desta vez foi anexado mais um quarto (antiga sala) e melhorado o conforto da sala de banho. As janelas foram trocadas por outras de maior segurança e incrementada a altura dos muros. A casa sofreu outras tantas reformas, sendo a maior delas em 1952, quando foi construido o terraço fechado como um jardim de inverno.
(1961-1968) Estado de São Paulo
(1968- ) Universidade de São Paulo Recebida como herança jacente.


Dona Yayá
Dona Sebastiana de Mello Freire, conhecida por Dona Yayá, habitou a casa por 40 anos, de 1921 até a sua morte em 1961.
Moradores antigos do bairro alegavam que o casarão era mal assombrado: ouvia-se por toda a redondeza gritos que possivelmente viriam do fantasma de D. Yayá, toda de branco a embalar um bebê! Na verdade, a casa durante 40 anos foi um hospício privado para sua rica moradora, considerada alienada numa época de parcos conhecimentos psiquiátricos e extremamente preconceituosa em relação às mulheres que ousavam. Considerada independente e avançada, Yayá quando jovem era uma descontraida e alegre protetora dos artistas.
Dona Yayá


Infância
Filha de Manoel Almeida Mello Freire e Josephina Augusta de Almeida Mello, Yayá nasceu em 21 de janeiro de 1887, em um palacete de dois andares à Rua Sete de Abril. Seu pai foi bacharel em direito, deputado e senador e possuia fazendas em Mogi das Cruzes e Guararema. Tinha apenas um irmão vivo (outros três haviam morrido), Manoel Junior, quatro anos mais velho. Muito unidos, bricavam pelos jardins da mansão e estudavam em casa. Sua prima Elisa de Mello Freire e sua grande amiga Rosa Masullo moravam com eles na mansão da Sete de Abril.
Primeira tragédia

Em 1900, seus pais morrem com diferença de dois dias! Os orfãos de 14 e 18 anos ficam sob os cuidados da madrinha Eliza Grant e como tutor é nomeado Manoel Joaquim de Albuquerque Lins. Yayá vai estudar no internato do tradicional colégio Nossa Senhora de Sion (permanecendo até 20 anos). Yayá era fluente em francês, escrevia bem, tocava piano, adorava as artes plásticas e praticava fotografia, revelando e ampliando suas próprias fotos em seu laboratório. Religiosa, adorava fotografar santos. Sua colega de Sion, Eliza Grant acabou por acompanhá-la até sua morte em 1944. 

Segunda tragédia
Em 1905, fazendo uma viagem à Argentina de navio, o irmão Manoel desaparece misteriosamente de seu camarote. Yáya se torna herdeira única de imensa fortuna. Yayá vestia-se com elegância e discrição. Possuia dois carros e costumava dirigir até sua fazenda em Guararema onde gostava de passear pelos bosques a cavalo.

Terceira tragédia
Não se sabe se devido sua personalidade forte, temperamento fechado e hábitos ousados para uma preconceituosa e recatada sociedade ou, a reais disturbios mentais aflorados pelas provações que foi submetida ainda jovem ou até movido por interesses de terceiros, D. Yayá em 1921 já é considerada insana. Os primeiros sintomas surgiram em 1918 quando achando que ia morrer, redigiu a lápiz seu testamento e começou a distribuir jóias para os empregados (com Rosa recolhendo-as em seguida). Em 1919 novo surto: achava que todos queriam violentá-la e matá-la. Não comia e tentou o suicídio. Internada no Hospital Homem de Melo, foi examinada e considerada incapaz. A interdição foi oficializada em abril de 1919, como curador Sousa Queirós e internada no sanatório do Instituto Paulista por um ano. Especialistas aconselharam que ela fosse removida para um lugar melhor que o sanatório pois tinha recursos para tal. Em 1920 é levada para o imóvel da Rua Major Diogo, que sofre uma reforma para abrigá-la, permanece lá até sua morte em 1961, aos 74 anos, por insuficiencia cardíaca. A reforma acrescentou um solário, bem como obras visando sua segurança. Acompanharam Eliza Grant, Elisa Freira, Georgina Tavolaro, empregados e dois enfermeiros.
Solitária, D. Yayá estava confinada a um setor da casa onde podia olhar as outras dependencias do imóvel através de uma pequena abertura existente na porta de seu quarto. O solário era aberto de vez em quando para um rápido passeio no início. Posteriormente nem este prazer era possível.
Durante os delírios, Yayá batia-se contra as paredes, feria-se com objetos e farpas,   dizia        impropérios, proclamava-se partidária dos aliados da 1a. Guerra, repetia continuamente ser católica apostólica romana, rasgava suas roupas, chorava, cantava, queixava-se de ser ameaçada de morte e de violações, pedia o filho que julgava ter tido, imaginava amamentá-lo e embalá-lo. Com o passar dos anos os delírios diminuiram. Em 1952 atingiu o período demencial sua fase crônica final: embora tendo ainda algumas manifestações agressivas, estava abúlica, apática, quase inerte. Faleceu em    4 de setembro de 1961, no Hospital São Camilo,  onde fora submetida a uma operação de câncer.
Muito se comentou na imprensa da época:    boatos, artigos recheados de mistério, ingratidão, cobiça até cárcere privado eram editados no     semanário Parafuso. Em realidade, houve disputa entre os parentes de Mogi das Cruzes visando abocanhar parte da fortuna e para isso, atacavam os      que cuidavam de Yayá. Mas quando D. Yayá morreu, seus parentes ambiciosos já estavam mortos!
Dona Yayá


Casa da D. Yayá hoje
Após sua morte em 1961, a casa passa a ser propriedade do estado de São Paulo pois  Yayá   não tinha herdeiros. Em 1968 a casa é repassada para   a Universidade São Paulo que se encarrega do projeto de restauração, com a finalidade de     transformá-la em um Centro Cultural.        Não podemos deixar de sentir a amargura e tristeza que permanece na  casa até hoje com o testemunho de várias árvores frutíferas ao seu redor.


Dona Yayá Dona Yayá

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