PENSAMENTOS, DEVANEIOS E INQUIETAÇÕES

CRÔNICAS DO COTIDIANO, DO PONTO DE VISTA FEMININO,ARTÍSTICO, FILOSÓFICO, EMOCIONAL E SOCIOLÓGICO.

QUEM SOU EU...

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São Paulo, SP, Brazil
SOCIÓLOGA,HISTORIADORA, EDUCADORA E ARTISTA PLÁSTICA. Sou buscadora e curiosa por natureza. Sou bruxa, sem poções e crendices infundadas, observo e me integro à terra e aos seus movimentos. Amo a vida, os animais, plantas e a natureza. Solitária por vocação, pois nela busco forças e encontro repouso. Avessa aos ritos impostos e às convenções sociais, procuro a minha verdade. Sou arisca e desprezo dogmas, eles são a perdição da humanidade. Sou humana e falível. Busco o melhor de cada crença. deletando as manipulações. Amo o silêncio, a força da natureza e o equilíbrio cósmico, acho que sou inqualificável... Sou real e palpável, mas também sei ser etérea e indecifrável, se me convier. Amo o conhecimento, o mistério, as brumas da sensibilidade. Se quiser me conhecer melhor, siga-me...

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Sintam se à vontade nesse pequeno espaço onde compartilho minhas idéias, pensamentos, denuncio injustiças, lanço questionamentos, principalmente em relação ao universo feminino e toda a sua complexidade.
Minhas postagens são resultados de pesquisas na internet, caso houver algum artigo sem os devidos crédito, por favor me notifiquem para que eu possa corrigir uma eventual falta.
Obrigada por sua visita.

05 junho, 2010

LUCRÉCIA BORGIA




Lucrécia Bórgia (Subiaco18 de abril de 1480 — Ferrara24 de junho de 1519) foi a filha ilegítima de Rodrigo Bórgia, importante personagemespanhol do Renascimento, que viria a se tornar o papa Alexandre VI. O irmão de Lucrécia foi o conhecido déspota César Bórgia.
A família Bórgia acabou por representar na história a política maquiavélica e a corrupção sexual consideradas como características dos papados no período do renascimento

A bela e saudável criança veio ao mundo em 18 de abril de 1480, em Roma. Vanozza Cattanei, sua mãe, também deu a Rodrigo os seguintes filhos: César (1475Giovanni (1477) e Geofredo (1481-1483). Os primeiros anos de vida da menina, foram passados na casa de sua mãe nas imediações de Roma, na chamada Piazza Pizzo di Merlo, em absoluta paz familiar. Ela tinha um pai que a adorava, uma mãe dedicada, dois irmãos que brigavam por sua atenção, e outro para mimar. Já nesta época, começaram a surgir as primeiras desavenças entre Giovanni e César Bórgia. Tudo começou pela disputa que os dois travavam pela preferência da pequena irmã, e pelos ciúmes que César nutria devido à preferência que o seu pai dava a Giovanni .

Quando completou nove anos, Lucrécia foi separada de seus irmãos: Giovanni seguiu para a Espanha; César viu-se obrigado por Rodrigo a entrar para a vida religiosa, mesmo sem a menor vocação; e a própria Lucrécia foi despachada para a casa de Adriana de Mila, dama da nobreza e viúva, a fim de receber uma educação erudita ao lado da rigorosa senhora. Adriana era a mãe de Orsino Orsini, garoto com a mesma idade de Lucrécia e recém-casado com uma jovem beldade de 14 anos chamada, Giulia Farnese. Giulia, apesar de casada, logo tornou-se amante do cardeal Rodrigo Bórgia, pai de Lucrécia, e a família do marido da garota era totalmente conivente com isso. Afinal, Rodrigo era um dos homens mais poderosos da Itália e um Papa em potencial. Giulia e Lucrécia logo se tornaram grandes amigas: compartilhavam de tudo, desde os mais preciosos segredos até dicas de sedução. Aí foi o grande erro de Rodrigo quanto à criação de Lucrécia Bórgia. Ela esteve sob a influência mundana de Giulia Farnese por muitos anos. Em apenas quatro anos, Lucrécia evoluiu de uma frágil menina para uma estonteante mulher.

Casamento com Giovanni Sforza

Lucrécia casa-se com Sforza em 12 de junho de 1493; ela tinha 13 anos e ele 26. Sforza recebeu como dote 15.000 ducados. Todos os seus irmãos estiveram presentes na cerimónia. Desde que eles haviam saído da casa de Vanozza, em 1489, que os irmãos Bórgia não se encontravam. César, agora cardeal, e Giovanni, agora duque de Gandia, brigavam mais do que nunca. Agora não apenas por causa da atenção da irmã ou do pai, mas sim por quem tinha mais mulheres e mais riquezas. Porém, o maior espanto de todos não foi César, Giovanni ou muito menos Geofredo; foi, sim, Lucrécia, a noiva, que havia mudado tanto física quanto psicologicamente. Da menininha que era em 1489, agora ela era precocemente uma mulher fatal que já tinha desejos carnais ativos. Seu corpo não aparentava, nem de longe, os seus treze anos e já mostrava belas formas capazes de chamar a atenção de qualquer homem. Lucrécia tinha cabelos cor de ouro e olhos de um azul cintilante. Ela foi dita a mais bela mulher de toda Roma.
Os encantos da garota seduziram todos os presentes, mas não o duro e áspero noivo. Foi documentado que Giovanni Sforza permaneceu frio a Lucrécia durante todas as festividades, e nem sequer dançou com a noiva no banquete. Porém, isso não fez a mínima diferença para ela. Se ela tinha um marido que não estava disposto a dançar, ela tinha irmãos que estavam - e muito.
Lucrécia permaneceu por todo o banquete acompanhada ora por César, hora por Giovanni Bórgia. Quando marido e mulher foram se deitar ao quarto nupcial, os dois leram para a irmã poemas falando de amor. Começaram aí as primeiras acusações de incesto na família Bórgia. Porém, ao menos desta vez, admite-se que isso não prova algum relacionamento além do fraternal entre Lucrécia e os irmãos, já que recitar poemas de amor para a noiva era um costume italiano muito ativo no século XV.
O casamento não se consuma, pois a noiva era considerada jovem demais. E, por incrível que isso pareça, Lucrécia se mantém virgem e intacta até a primeira noite com o marido por volta de 1495. Os dois anos que separaram o casamento da consumação, marido e mulher passaram totalmente afastados, Giovanni Sforza governando Pésaro e Lucrécia fruindo as orgias nos aposentos de seu pai e de seus irmãos no Vaticano. Neste meio tempo, Alexandre depõe Giulia Farnese como sua amante favorita e a expulsa do Vaticano; assim Lucrécia fica sem a amiga. Porém, ela já arranjaria outra no mesmo nível de frivolidade: a nova esposa de seu irmão Geofredo, Sanchia de Aragão, filha bastarda do rei de Nápoles. Sanchia, além de servir a Geofredo como esposa, freqüentava também a cama de outro Bórgia, Giovanni, e talvez também de César.
Em 1495, Giovanni Sforza levou Lucrécia consigo para Pésaro. Sanchia de Aragão acompanhou o casal, a fim de afastar-se por algum tempo do Vaticano para abafar seus escândalos. O mesmo também acontecia com Lucrecia Bórgia, já que os boatos sobre o seu incesto aumentavam cada vez mais. O próprio Sforza acusou a mulher para o seu tio Ludovico, o Mouro, de manter constantes relações sexuais com seus irmãos e, vez por outra, com o próprio pai. Essas acusações NÃO devem ser levadas ao pé-da-letra, já que foram feitas na época em que convinha a ele acusar a Lucrécia.
Quando Sforza retornou ao Vaticano com Lucrécia, um plano de César e Giovanni (e encoberto pelo Papa Alexandre), planejava matar o próprio Giovanni Sforza para que a irmã pudesse casar-se com um noivo muito mais vantajoso: o duque de Biscegli, irmão de Sanchia de Aragão. Lucrécia descobriu o plano escutando a conversa por trás da porta, e tomou uma atitude heróica, que deixou o pai e os irmãos decepcionados: avisou Sforza do que o esperava, e aconselhou-o a fugir. Ela própria fez as malas do marido às pressas e o acobertou na fuga.
Ao perceber que sua irmã havia ajudado Giovanni Sforza a fugir, César trancou-se em seu quarto com Lucrécia. Conta-se que ela gritava dizendo que estava altamente decepcionada e escandalizada com a crueldade do pai e dos irmãos, e que desejava afastar-se deles para sempre. Um pouco menos exaltada, ela pediu ao seu pai que a deixasse passar uma temporada no Convento de San Sisto. Ela partiu, enquanto seus irmãos e Alexandre VI planejavam a anulação do casamento de Lucrécia com Sforza, baseando-se no hipótese de Giovanni ser impotente (apesar de sua primeira esposa ter morrido em conseqüência de parto), e que o casamento nunca foi consumado. Duas grandes mentiras!
Em 14 de julho de 1497, César e Giovanni vão cear na casa da mãe, Vanozza Cattanei. Giovanni parte antes mesmo da ceia terminar, alegando um encontro amoroso com uma de suas amantes. Ele reaparece apenas dias depois, morto no Rio Tibre, degolado e com grandes feridas por todo o corpo. As investigações dos emissários de Alexandre VI começaram, e todas as provas apontavam apenas um assassino: César Bórgia. Além de criados seus terem sido vistos nas imediações do local no horário do acontecimento, ele era a pessoa que mais tinha motivos para assassinar Giovanni: a inveja por seu irmão ser duque de Gandia, já que, sendo o mais velho, teoricamente César teria esse direito; a preferência que o pai sempre deu a Giovanni; o ciúme doentio que ele sentia por Lucrécia ser mais próxima a Giovanni - aos olhos dele, já que ela sempre declarou que César era o seu irmão favorito. Ao perceber que seu próprio filho era o responsável, o papa ordenou que as investigações fossem terminadas, antes que o escândalo fosse ainda maior.
Logo após a morte de Giovanni Bórgia, outra polêmica familiar ocorria: a gravidez de Lucrécia, apesar de esta estar enclausurada em um convento. A paternidade da criança é amplamente discutida até os dias de hoje. Existem teses de que o próprio César Bórgia engravidou a irmã, e outros dizem que o responsável foi um belo jovem espanhol chamado Pedro Calderón. Calderón era da criadagem do papa Alexandre e era o incumbido de transportar a correspondência entre pai e filha. O certo é que, por algum tempo, ele realmente foi amante de Lucrécia Bórgia, mas não há como provar se ele a engravidou ou não. Foi documentado que ao descobrir o romance entre sua irmã e Pedro, César, desvairado de raiva e de ciúme, o esfaqueou, porém o rapaz conseguiu chegar aos aposentos do papa e sujou sua batina de sangue. Pedro Calderón escapou desta vez, mas a sorte não lhe sorriria novamente. Pouco depois, ele seguiu o destino de Giovanni Bórgia e surgiu morto no Rio Tibre. E o assassino foi também o mesmo de Giovanni: César Bórgia.
Em princípios de 1498, grávida de seis meses, Lucrécia seguiu até o Vaticano para atestar sua ´virgindade´ e assim poder anular seu casamento com Giovanni Sforza. Ela conseguiu convencer os jurados, usando várias náguas para esconder seu estado. "Virgo intacta sum", declarou ela.
Lucrécia deu à luz um menino em uma data indeterminada de abril de 1498, que chamou de Giovanni. Porém, ele ficou conhecido apenas como "o Infante Romano"(Infans Romanus), e nada mais. A paternidade foi reconhecida por César Bórgia, agora que este largou a batina. Lucrécia agora se preparava para casar-se novamente, desta vez com Afonso de Aragão, duque de Biscegli.

Casamento com Afonso de Biscegli

Em 17 de junho de 1498, Lucrécia Bórgia desposa Afonso de Biscegli em uma cerimônia pomposa no Vaticano. Lucrécia tinha 18 anos, e Afonso 17. Ele, na realidade não tinha a mínima vontade de se casar com uma Bórgia, pois tinha escutado boatos de que a esposa era uma cruel envenenadora que guardava um veneno mortal dentro de um anel, uma mulher frívola que era "filha, mulher e nora" de seu pai. Porém, ao conhecer Lucrécia e verificar que ela era realmente bonita e aparentemente inofensiva, ele logo se apaixonou terminantemente.
No ano seguinte, Alexandre VI deu à filha Lucrécia a fortaleza de Nepi e as regiões de Spoleto e Foligno para que ela governasse. Lucrécia pela primeira vez mostrou a quem quisesse ver que ela não era apenas bonita, mas também muito inteligente e perspicaz. Afinal, ela era estudada, sabia falar em várias línguas (além de seu italiano, francês, espanhol, latim e um pouco de grego). Governou os lugares com eficiência, justiça e piedade. Porém, a felicidade de Lucrécia jamais duraria muito: seu irmão, muito enciumado ao ver a felicidade da irmã, recomeça a arquitetar. E ele encontra mais um motivo para ter certeza que a aliança com Biscegli era maligna a ele: o fato é que ele esperava se casar com uma das Princesas Francesas, e justamente os inimigos de Afonso e sua Casa de Nápoles
Assim, César Bórgia põe em ação mais um de seus planos malignos e sangrentos: o de matar o próprio Afonso de Biscegli. Lucrécia estava grávida agora, e César conseguiu convencer a irmã e o cunhado a ir ter a criança em Roma, que nasceu e foi chamado de Roderigo. Em julho de 1500, pouco depois da chegada do casal, Afonso foi surpreendido por um grupo de homens fortemente armados o esperando na Praça de São Pedro. Ele foi apunhalado, mas conseguiu fugir até os aposentos de Lucrécia, onde caiu gravemente no chão. Socorrido imediatamente por sua mulher, que sabia exatamente quem era o mandante do crime e que tentaria novamente; Afonso se recuperava. Lucrécia e sua cunhada, Sanchia de Aragão, cuidavam de Biscegli e, com medo de envenenamento, elas próprias faziam a comida do duque. Porém em uma noite de descuido de Lucrécia e Sanchia, César e um criado (Michelotto Corella - um primo dos Bórgia, homem de confiança do papa e de César) entraram sorrateiramente nos aposentos de Afonso e o enforcaram. Foi dito que quando saíram do quarto, César se deparou com Lucrécia do lado de fora. Ela gritou de horror.
Lucrécia Bórgia passou à história como a culpada deste assassinato. Dizia-se que Biscegli foi vítima de um de seus venenos, apesar de a acusação não ter fundamento algum, apenas na história pitoresca de Victor Hugo.

Filofila, o difamador

Toda a visão de Victor Hugo foi patrocinada pelas invenções de um certo satirista. Filofila, protegido secretamente pelos Orsini, difamava Lucrécia e sua família por Roma. Toda noite, um novo cartaz sobre a família papal aparecia nas ruas. Filofila cantava sobre as orgias no Vaticano, dizia que o papa tinha "vinte filhos naturais" - o que não deixava de ser verdade. Que Alexandre, além de financiar a campanha de seu filho César com o dinheiro das simonias (isso é verdade!), tinha ordenado que sua filha Lucrécia se deitasse com os cardeais, para no dia seguinte poder envenená-los com um pozinho branco, escondido em um compartimento de seu anel; "a mulher Bórgia é até uma pessoinha bem culta", dizia Filofila, "sua cultura foi muito bem aprendida quando ela se deitava com os poetas que cantam sobre sua beleza!". Dizia Filofila, "a filha do papa adora copular. Pode ser com seu irmão, pai, poeta, cachorro, bode, ou até um macaco". Ele falava que César tinha transformado "um irmão em corno e outro em cadáver". "Assassinato é sua violência mais sutil e estupro é seu prazer mais necessário". Com detalhes, Filofila descrevia a suposta relação incestuosa de César e Lucrécia. Mas para a danação do sátiro, certo dia seus restos apareceram mutilados na porta do castelo de seus senhores Orsini. Sobre o caso, César apenas comentou que "Roma havia se acostumado a escrever e falar o que quisesse, mas eu ensinarei a todo o povo a perder o mau costume".

Papisa

Em 1501, o papa passou algumas semanas em Nápoles, recém conquistada pelos Franceses. O mais convencional, seria deixar um cardeal de confiança do papa em sua ausência para tomar as rédeas do Vaticano. Mas Alexandre VI escandalizou a Europa com uma escolha inédita: durante sua viagem, a papisa seria sua filha Lucrécia Bórgia. O ato totalmente inédito na história do papado, provocou uma fúria explicável no renomado Colégio dos Cardeais.
Vale lembrar que não basta estar a frente do governo temporal de Roma para ser considerado papa ou papisa.

Casamento com Afonso D'Este

Lucrécia, após sua controversa regência, se recolheu à fortaleza de Nepi com seus filhos Roderigo e Giovanni ("Infante Romano"), enquanto seu pai e irmão planejam mais um casamento-chave para ela. Desta vez o novo alvo da família Bórgia era o filho do poderoso duque de Ferrara, o jovem Afonso d´Este. O casamento foi confirmado, e realizado em 30 de dezembro de1501, sem a presença do noivo, em cerimônia simples no Vaticano. Em 2 de fevereiro do ano seguinte, Lucrécia entra triunfalmente em Ferrara. Como dote, foi pago aos d'Este 200.000 ducados, apesar da proposta inicial do noivo ter sido de 300.000. Comparando aos 15.000 ducados pagos a Giovanni Sforza, o primeiro marido de Lucrécia, alguns anos antes, a diferença é formidável. Mas há uma explicação muito simples. Lucrécia Bórgia, na época uma menina de treze anos, não tinha nenhuma mácula em seu nome. Mas agora, aos olhos de toda a Europa, ela era envenenadora e incestuosa. Lucrécia finalmente se livraria da sombra de seus parentes infames, nunca mais tornaria a ver Alexandre VI, mas não se livraria do irmão César por enquanto. Lucrécia tinha 22 anos e Afonso d´Este 25. Como o duque de Biscegli, Afonso também não estava lá muito desejoso de se casar com uma Bórgia. Mas também acabou sucumbindo aos encantos da jovem.
Na realidade, como disse a própria Isabella d`Este, irmã de Afonso d´Este, Lucrécia Bórgia estava muito acima das expectativas. Eles a imaginavam como uma "mulher frívola e com a maldade nos olhos", mas o que encontraram foi uma pessoa "sensível e agradável". Um cortesão de Ferrara descreveu a jovem como "de beleza delicada e grandiosa, que seus bons modos e compostura incríveis fazem parecer ainda maior". Lucrécia também teve de se acostumar com a frieza dos d´Este: diferentemente dos Bórgia, eles jamais se permitiam festas ´alegres´ que cambeavam para as orgias, tão adoradas por Lucrécia. Em poucos anos, Lucrécia acabou por tornar-se muito mais uma d´Este do que uma Bórgia. Tornou-se inexpressiva, e o sorriso, companhia tão assídua que tinha quando era uma ´Bórgia´, era agora muito raro, apesar de estar sempre contente. As festas agora não faziam mais parte de seu planejamento, e sim as suas visitas aos orfanatos, hospícios e conventos. As obras sociais se tornaram prioridades em sua vida.
César mantém visitas constantes à irmã na corte de Ferrara, já que se instala em Cesena. Quando a irmã cai doente de malária (evento pelo qual abortaria uma criança), César Bórgia vai a Ferrara (interrompendo uma campanha militar) desconfiando de um envenenamento. Ele avisa perigosamente ao duque que "se minha irmã morrer, o sangue dela não será o único derramado por aqui". Mas Lucrécia se cura, e só depois seu desconfiado irmão segue seu caminho. Eles nunca mais se veriam.
Em 1503, o papa Alexandre morreu, e com a eleição do papa Júlio II, César viu seus planos totalmente arruinados. César casou-se com a princesa Charlotte de França, ganhou o título de duque de Valentinois, e entrou para a história como ´O Duque Valentino´. Foi imortalizado por Maquiavel em sua obra prima, O Príncipe, que tomava César Bórgia como o exemplo de bom governante e habilidade política. César foi morto em 1507, lutando pela França, em uma emboscada na Espanha.

Duquesa de Ferrara

Voltando a Lucrécia, ela engravidou em 1503. Mas acabou por contrair malária, e seu médico teve de abortar a criança para não pôr a vida de Lucrécia em perigo. Com a morte do sogro em 1505, ela e marido foram nomeados duques de Ferrara. No mesmo ano, deu à luz o primeiro rebento do casal, Afonso. A criança morreu semanas depois, mas três anos depois o casal ducal foi presenteado com outro menino, Hércules. Depois deste, vieram outros filhos: Hipólitho (1509), Francesco (1516), Alexandre (1514), Eleanora (1515), e Isabel Maria (1519). Ela foi boa mãe para todos os seus filhos, inclusive para os que estavam longe dela, como Roderigo e o misterioso Giovanni, "O Infante Romano". Sabe-se que Roderigo morreu em 1512, aos treze anos de idade, fazendo Lucrécia Bórgia sofrer e se recolher em um convento por algum tempo; mas quanto ao "Infante Romano", apenas se sabe que ele morreu em 1548, tornou-se duque de Spoleto, mas morreu relativamente esquecido e com pouco status de neto de papa, ou filho de Lucrécia Bórgia. Sua linhagem é totalmente desconhecida.
A primeira vez que Lucrécia ficou como regente em Ferrara foi um ano após sua nomeação como duquesa. Ela aproveitou a oportunidade para mostrar outra simpatia comum de sua família: a vontade de ajudar o povo judeu, ao criar um édito proibindo terminantemente qualquer tipo de discriminação contra eles. Lucrécia em Ferrara formou a chamada "Corte das Letras": incluía escritores como Ludovico Ariosto (que dedicou-lhe "Orlando Furioso"), Pedro Bembo (que definiu o seu amor por Lucrécia Bórgia como ´platônico´) e Hércules Strozzi, da poderosa família Strozzi, assassinado por Afonso d´Este pelo ciúme que ele sentia do literato com Lucrécia. Sua corte também reunia pintores como Ticiano e Venetto, entre outros. Em1508, Lucrécia recebe o humanista Erasmo de Roterdâ em sua corte. Em 1506 fica como regente de Ferrara durante a ausência do marido, embora estivesse sob a vigilância de seu cunhado, o cardeal Hipólitho. Apesar das constantes infidelidades do marido, - ele, após a morte de Lucrecia Bórgia, juntou-se a Laura Dianti, uma de suas amantes, que viveu como Duquesa de Ferrara apesar de nunca terem se casado formalmente - Lucrécia foi feliz com Afonso d`Este. Ela nunca o amou realmente, bem como a seu 2º marido, porém tinha-lhe apreço e amizade.
Como uma Bórgia, Lucrécia guardava algum rancor do papa Júlio II, antigo Giuliano della Rovere. Afinal, ele havia sido inimigo ferrenho de seu pai e traído seu irmão. Então, ela se jubilou quando Ferrara entrou em guerra contra o papa em 1511, e mais ainda quando a venceu. Comemorou mais ainda quando o papa Júlio morreu, e quem assumiu a Santa Tiara foi um Médici, Leão X. Afinal, a família Médici sempre foi aliada dos Bórgias. Inclusive o próprio papa, antigo Giovanni de Médici, havia sido muito amigo de seu irmão César nos tempos em que ambos cursavam a Universidade de Pisa.


Morte

Aos 39 anos de idade, Lucrécia está prestes a enfrentar outro parto. Prevendo sua morte, ela enviou uma carta ao papa Leão X pedindo a bênção especial. Cercada de amor familiar, em24 de junho de 1519, morre Lucrécia Bórgia em Ferrara, após uma longa febre pós-parto. A bênção papal não veio a tempo, mas Leão X escreveu ao viúvo que lamentava muito a morte da "boa duquesa", de quem o "inesquecível amigo César falava com tanto carinho". Foi sepultada no convento de Corpus Domini (do qual ela foi protetora em vida), em Ferrara, em um hábito de freira.
Sua vida se situou no centro da era renascentista – grande explosão artística, literatura refinada, esplendor de festas e, ao mesmo tempo, de violência, traições e assassinatos. Um destino maldito parecia envolvê-la e sofreu calúnias dos inimigos do pai – chegando até a ser acusada de duplo incesto, como o pai e com o irmão, o que durante muito tempo horrificou as imaginações. O irmão, por razões políticas, matou seu primeiro marido e mandou estrangular o segundo . A vida de Lucrécia estimulou as lendas, por sua beleza, por sua inteligência, seu refinado sentido político e seu talento. Admirada por brilhantes espíritos, em Ferrara foi adorada e apelidada «A Mãe do Povo».
Geofredo (Jofrè) Bórgia, o menos turbulento dos filhos de Vanozza e do então Cardeal Roderigo, é encarado hoje como o melhor dos Bórgia. Sempre apagado diante de seus irmãos: João ou Giovanni, que nem tinha escrúpulos, o ambicioso César, a brilhante Lucrécia. Geofredo nunca se importou, como atesta um contemporâneo e, como tinha real vocação religiosa, foi feito cardeal após a morte de sua mulher Sanchia, em 1504. Quando desgraçadamente morreu seu irmão César três anos depois, foi obrigado a deixar a Igreja como único varão na família. Casou-se então por segunda vez com Maria de Milão, sendo pai de Francesco, Marina, e Lucrécia Bórgia, batizada em homenagem à irmã. Morto em 1517, parece ter sido o único Bórgia a levar vida correta.
Francisco ou Francesco, filho de Lucrécia, foi marquês de Massolambarda e pai de dois filhos. Morreu em 1578

Filhos

Seu primeiro filho com Afonso, Hércules d'Este, de aparência física idêntica à do pai, sucedeu-o como duque de Ferrara em 1534; foi pai de cinco filhos, e morreu em 1559. Hipólitho tornou-se um alto religioso, e morreu em 1572, como um verdadeiro cardeal Bórgia: com uma boa fortuna, e muitos filhos chorando sua morte. Os dois, sem dúvidas, eram muito mais Bórgia do que d´Este. O gosto pelas coisas mundanas, excessos, e o costume de se livrar dos inimigos pelo modo 'fácil' eram características herdadas da família materna. Alexandre viveu apenas por dois anos. Eleonora herdou a beleza da mãe, assim como o fascínio que causava nos poetas. Apesar disso, tornou-se uma freira por ordens de seu pai, e morreu como uma abadessa virtuosa em 1575. E Isabel Maria, a menina cujo parto causou a morte da mãe, seguiu a Lucrécia e morreu semanas depois.

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