EDITH PIAF - O PEQUENO PARDAL DE PARIS
Nascida em Paris, Edith Piaf tornou-se um dos maiores nomes da canção francesa e universal. Amada por um público que nunca deixou de ser renovado através das gerações, ela é o símbolo do amor cantado e vivido em sua essência visceral. Trazia no rosto a expressividade dos sentimentos, na voz a força de um canto dilacerante, que fazia da tragédia humana a beleza da sua arte.
Após a Segunda Guerra Mundial, Edith Piaf tornou-se a voz da França em todo o mundo. Sua vida foi construída em estradas sinuosas, muitas vezes cobertas pelas neblinas dos mistérios e da sobrevivência. No fim da guerra, o canto de Edith Piaf traduzia aquele momento de um país em escombros. Aquela mulher de expressões densas, muitas vezes vertidas em gestos dramáticos, era como a França renascida das dores, da humilhação e da vergonha que lhe impregnara a República de Vichy. Piaf era trágica, mas fascinante, de uma beleza artística infindável. Sua voz era a calmaria, seu corpo o terremoto, o seu canto a sedução da arte e do amor.
Conhecida como “La Môme Piaf” (Pequeno Pardal), a cantora saiu dos salões de música para os grandes palcos franceses. Não chegou aos cinqüenta anos, mas viveu com uma intensidade dilacerante, rasgando a juventude através da sua arte e dos seus amores . Seu rosto foi sendo esculpido e dilapidado pelo tempo, pelas paixões, pelas tragédias, pelo álcool e pelos barbitúricos. Próxima da morte, trazia um semblante envelhecido e sugestivamente demarcado pela dor, pela tristeza que refletia nos olhos.
Edith Piaf cantou o amor, a paixão, a França. Deixou sucessos imortalizados, como “La Vie En Rose”, canção que se tornou a imagem do seu país no pós-guerra; “Hymne à L’Amour”, que em 1949 refletiu o abandono e a solidão que a morte do amante, o boxeador Marcel Cerdan, atirou-a; a clássica “Non, Je Ne Regrette Rien”, de 1960, ou “Milord”, de 1959. No estilo francês da chanson, ninguém brilhou tanto como ela.
Na sua casa Edith Piaf recebeu e promoveu encontros entre jovens talentos que se tornariam grandes nomes da música francesa e universal, tais como Gilbert Bécaud, Jacques Pills, Louis Amade, Yves Montand, Jacques Plante, Jean Broussolle, Charles Aznavour, Francis Lemarque e Jacques Prévert. Seu nome está indelevelmente ligado a estes gigantes da fonografia da França.
La Môme Piaf calou-se para sempre, em 10 de outubro de 1963. Não tinha completado 48 anos. Deixou um vazio imenso na arte francesa. Tornou-se um mito, que atravessou as fronteiras do seu país, arrebatando uma legião de fãs pelo mundo. Quase cinco décadas depois da sua morte, Edith Piaf, o mito, é um ícone do mundo contemporâneo, conhecida e reverenciada internacionalmente. Ainda hoje, o seu canto fascina e emociona o ser humano, transformando em arte e beleza a dor da existência e das paixões.
A Infância Vivida em Um Bordel
Edith Giovanna Gassion, reza a lenda, teria nascido na calçada da Rue de Belleville, em Paris, em 19 de dezembro de 1915. Sua certidão diz que nasceu no Hospital Tenon, que atendia aos moradores de Belleville, bairro de grande concentração de imigrantes em Paris.
Apesar de várias biografias escritas, há fases da vida de Edith Piaf que permanecem guardadas no desconhecido, envoltas por mistérios. Era filha de Louis-Alphonse Gassion, um contorcionista de circo de ascendência franco-italiana, que teve uma breve passagem pelo teatro; e, de Annetta Giovanna Maillard, uma cantora de ruas e de cafés, que tinha uma ascendência ítalo-cabila. A mãe de Edith Piaf usava o pseudônimo de Line Marsa quando cantava nos cafés de Paris.
A infância da pequena Edith foi marcada pela mais absoluta miséria e por graves doenças. Louis-Alphonse seguiria para as trincheiras da Primeira Guerra Mundial, servindo o seu país. Impossibilitada de criar o bebê, Annetta deixaria a filha com a mãe, Emma Said, com quem viveria um curto período de tempo. A mãe de Annetta era uma mulher alcoólica, escrava da bebida, não tinha cuidados de higiene com a neta. Encontrando a filha doente e coberta de eczema, na casa da avó materna, na Kabila, Louis-Alphonse levou o bebê, entregando-o à sua mãe, em 1916, voltando a
seguir, para as trincheiras.
A avó paterna da pequena Edith dirigia um bordel na Normandia. Já bem cedo, a cantora teve contacto com as prostitutas e, reza algumas biografias, teria ela própria tornado-se uma. O ambiente de prostíbulo, com a sua moral duvidosa, influenciaria para sempre o universo de Edith Piaf, a sua forma de ver o mundo. Ali, a criança começou a compreender a malícia ambígua da vida . Em um ambiente hostil, a pequena conquistou as atenções da prostituta Titine, que lhe adquiriu amor, passando a tratá-la com muita ternura.
Quando aos sete anos, a menina perdeu momentaneamente a visão em conseqüência de uma ceratite, foi Titine quem cuidou dela. A dedicação da prostituta foi tanta, que ela foi ameaçada de ser expulsa do bordel por não cuidar da clientela. Com a ajuda das outras prostitutas, Titine promoveu uma peregrinação a Lisieux, onde fez uma promessa a Santa Thérèse de Lisieux para que a pequena voltasse a enxergar. Dez dias depois, a menina recuperava a visão, como se fosse acometida de um milagre. Ela tornar-se-ia devota da santa pelo resto da vida.
Os Primeiros Amores da Juventude
Somente em 1929, o pai voltou a procurá-la. Edith é uma jovem mulher de 14 anos. Louis-Alphonse Gassion retoma as atividades de artista, voltando a ser contorcionista. O normando apresentava-se nas ruas, sendo acompanhado pela filha. Mais tarde ingressaria em pequenos circos itinerantes, sempre tendo a companhia da jovem. É nesta ocasião que Edith descobre a sua vocação artística. Subitamente, começa a cantar sozinha pelas ruas.
Três anos depois, no auge dos seus 17 anos, a jovem Edith, sem a presença do pai, cantava sozinha pelas ruas de Paris, tirando dali os ganhos para sobreviver. Cantava com freqüência na Rue Pigalle e nos subúrbios da capital francesa.
Na ocasião, ela apaixonou-se profundamente por Louis Dupont, um entregador de lojas. Com Dupont teria a sua única filha, Marcelle. Assim como a mãe, a jovem tinha dificuldades em cuidar da criança, deixando-a com Dupont quando estava a cantar nas ruas da cidade. A pequena Marcelle viveria apenas dois anos de idade, morrendo vítima de uma meningite.
A jovem artista de rua apaixonou-se, em seguida, por Albert, um gigolô, com quem passou a ter um relacionamento. Albert levava uma comissão do dinheiro que Edith conseguia cantando nas ruas. Com isto, ela impedia que o namorado a forçasse a prostituir-se. Quando ela terminou o relacionamento, Albert quase a matou com um tiro.
Surge o Nome Edith Piaf
Aos vinte anos, em 1935, Edith é descoberta nas mediações da Rue Pigalle, por Louis Leplée, proprietário da casa noturna Le Gerny, situada nos Champs Élysées, em Paris. Era uma casa de grande movimento, freqüentada por pessoas de todas as classes sociais da cidade.
Diante de uma mulher de baixa estatura, Leplée passou a chamá-la de “La Môme Piaf”, expressão francesa que significa Pequeno Pardal. A alcunha seguiria a cantora para o resto da vida, tornando-se parte do seu nome artístico. Foi pelas mãos do empresário que ela tirou os vícios adquiridos nas ruas, perdeu o grande nervosismo e aprendeu a cantar nos palcos. A pedido de Leplée, Edith passou a usar vestido preto quando no palco, que se iria tornar uma marca registrada da cantora. Vinda das ruas de Paris, nascia a cantora Edith Piaf.
Louis Leplée investiu na nova cantora, fazendo uma enorme campanha publicitária antes da estréia. Os esforços de Leplée resultaram na presença de várias celebridades na noite de estréia de Edith Piaf no Lê Gerny, entre elas o ator e cantor Maurice Chevalier.
Longe das ruas, as apresentações da cantora nos palcos das casas noturnas, resultaram na possibilidade da gravação dos seus primeiros dois discos, fato acontecido no ano de 1936; sendo o primeiro, lançado pela Polydor, “Le Mômes de la Cloche”, que se tornaria um sucesso imediato . Um dos discos teve as canções escritas pela compositora Marguerite Monnot, que se tornaria presença imprescindível na carreira da cantora. As duas desenvolveriam uma amizade que duraria toda a vida, fazendo várias canções em parceria, como a mítica “Hymne à L’Amour”.
Mas resquícios de um passado
marginal vivido pela cantora nas ruas de Paris, vieram à tona, ainda em 1936, quando, em 6 de abril, Louis Leplée foi morto em seu domicílio. O empresário foi assassinado por marginais ligados às drogas, que no passado tiveram ligações com a cantora. Edith foi interrogada e acusada de cumplicidade, mas conseguiu provar a sua inocência, sendo absolvida.
A morte de Louis Leplée atingiu dramaticamente a imagem e a carreira incipiente da cantora. Para reabilitar a imagem, ela chamou Raymond Asso, com quem viveria um romance. Asso começou por mudar o nome artístico da cantora, de La Môme Piaf para Edith Piaf. Em seguida, encomendou a Marguerite Monnot canções que retratassem o passado da cantora pelas ruas de Paris.
A Ascensão da Estrela
Já como Edith Piaf, ela marcou a sua estréia como cantora de música de salão, em 1937, tornando-se uma estrela da Chanson Française, sendo tocada incessantemente pelas rádios, arrebatando um público que passou a idolatrá-la. No fim daquela década, ela triunfa absoluta na famosa casa parisiense Bobino.
Em 1940, Jean Cocteau escreve uma peça para Edith Piaf, “Le-Bel Indifferent”, onde contracenava com o seu então companheiro, o ator Paul Meurisse. O mundo de Edith Piaf expandiu-se, fazendo com que se relacionasse com os maiores talentos da França. Ela também descobriu jovens talentos, como Yves Montand, que se tornaria uma celebridade, além de ser seu amante e parceiro por alguns anos.
No decorrer dos anos, Edith Piaf começa a escrever as suas canções, sendo auxiliada por compositores famosos.
Em 1944 a França era libertada da invasão nazista, que por quatro anos fizera do país uma nação submetida ao regime de Berlim. Em 1945, a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim, trazendo a liberdade que se iria construir em cima dos escombros que assolavam a Europa. Neste ano, Edith Piaf escreveu aquela que se tornaria a mais famosa das suas canções, “La Vie en Rose”, que seria lançada em 1946, percorrendo os quatro cantos do mundo, tornando-se um clássico.
Após a Segunda Guerra Mundial, Edith Piaf saiu da imensa fama que tinha na França, alcançando-a pelo mundo. Tornar-se-ia a voz internacional do seu país, sendo idolatrada por milhares de fãs que conquistou pelo mundo. Apresentar-se-ia com grande sucesso em grandes casas noturnas da Europa, Estados Unidos e América do Sul. A apresentação da cantora nos Estados Unidos foi vista por muitas celebridades, entre elas a atriz Marlene Dietrich, de quem se iria fazer amiga para o resto da vida.
Como estrela máxima da música francesa naquele conturbado século XX, a cantora apresentou-se nos maiores palcos do mundo, do mítico Paris Olympia Concert Hall ao Carnegie Hall. Piaf tornar-se-ia um ícone do seu país e da canção universal. A menina que quase ficara cega quando morava em prostíbulo, que vivera nas ruas de Paris todo o clima da marginalidade, sobrevivendo como cantora, era um mito, o mito Edith Piaf.
Edith Piaf e Marcel Cerdan – Um Hino ao Amor
A vida de Edith Piaf foi marcada por grandes paixões. Amores fugazes compuseram a alma da cantora, demarcando momentos felizes e de grandes tragédias. Dos romances vividos, os mais conhecidos foram os que envolveram celebridades como Charles Aznavour, Yves Montand, Marlon Brando, Théo Sarapo, Georges Moustaki e Marcel Cerdan.
De todos os homens que passou pela vida atribulada da cantora, o pugilista Marcel Cerdan foi considerado o seu grande amor. Um amor vivido pelas limitações da sociedade, visto que Cerdan era casado, e pelo desfecho da tragédia, quando este morreu em um acidente de avião, em 1949.
Marcelino Cerdan, que entrou para a história como o maior pugilista da França e um dos maiores do mundo, nasceu em Sidi Bel Abbes, então Argélia Francesa, em 22 de julho de 1916. Era quase um ano mais novo do que Edith Piaf.
Marcel Cerdan teve uma vida intensa, marcada por grandes conquistas esportivas, por um estilo de vida que despertava as atenções dos holofotes e, finalmente, pela tragédia que lhe ceifou a vida, no auge da sua essência de homem e de ídolo.
Marcel Cerdan trazia um corpo másculo, um semblante de galã, uma força de touro, uma sensualidade viril à flor da pele, que fazia dele um homem desejado pelas mulheres e admirado pelos homens. Ainda aos dezoito anos, em 1934, Cerdan estreou-se profissionalmente no boxe, em Meknes, no Marrocos. A partir de então ele iniciou uma carreira brilhante, acumulando, no princípio, 47 vitórias consecutivas, só perdendo pela primeira vez, em 1939. Na sua carreira gloriosa, que até hoje causa orgulho à França e aos franceses, Cerdan participou de 117 lutas, tendo vencido 113 vezes, sendo 66 vitórias por nocaute, acumulando apenas 4 derrotas.
As vidas de Marcel Cerdan e Edith Piaf seriam cruzadas em Nova York, quando a cantora fazia uma turnê pelos Estados Unidos, no verão de 1948. Ambos eram celebridades idolatradas na França e no resto do mundo. A paixão foi fulminante. Irresistível. Edith Piaf viu-se perdidamente atrelada ao pugilista.
Apesar de Marcel Cerdan ser um homem casado e com filhos, residindo com a família em Casablanca, no Marrocos; ele iniciou com Edith Piaf um tórrido romance, que abalaria a vida emocional da cantora para sempre. Desafiando a todos os obstáculos, os dois apareceram juntos em fotografias espalhadas pela imprensa do mundo inteiro. Apareciam felizes, apaixonados. Há fotografias ao lado de Piaf, que o pugilista mostra as marcas deixadas pelas lutas pesadas que travava nos ringues, estando algumas vezes com o rosto inchado ou com algum dente partido.
A fragilidade de artista de Edith Piaf fundiu-se com a força bruta indomável do pugilista, desenhando um retrato de amor divulgado nas páginas dos jornais. Os escândalos sempre fizeram parte da vida de Piaf, um novo não afetava o seu modo de ver o mundo, que lhe fora delineado no bordel da avó na Normandia, e, nas ruas de Paris.
Em outubro de 1949, Edith Piaf sentia-se sozinha em Nova York. Para aliviar a sensação de vazio, ela telefonou para o amante pugilista, pedindo que a viesse ver. Marcel Cerdan, que vinha de uma derrota em uma luta travada com o norte-americano Jake LaMotta, em Detroit, tinha assinado um contrato para outra luta de revanche. Para que pudesse ser devidamente preparado para um novo confronto, teria que ficar confinado em um acampamento. Antes de ir para o acampamento, Cerdan acede ao pedido da amada e parte ao seu encontro em Nova York, embarcando no Lockheed L-749 Constellation, da Air France. No meio do oceano Atlântico, o avião colidiu contra o Monte Redondo, na Ilha de São Miguel, nos Açores, matando todos os 11 tripulantes e 37 passageiros que estavam a bordo, entre eles Marcel Cerdan.
Naquele trágico 27 de outubro de 1949, Edith Piaf recebeu, algumas horas antes de subir ao palco, a notícia de que o avião em que Marcel Cerdan viajava caíra em uma ilha dos Açores. Mesmo abalada pela notícia, Edith Piaf não cancelou o espetáculo. Quando subiu ao palco, dedicou aquela noite ao grande amor da sua vida. Movida pela dor da emoção, a cantora soltou a voz. Ao final da quinta canção, ela desmaiou no palco.
Para suportar a imensa dor da morte de Marcel Cerdan, e as dores físicas que se apoderavam do corpo frágil da cantora, provocada por crises reumáticas, ela recorreu à morfina, receitada pelos médicos, que na época consistia no mais poderoso analgésico disponível. Iniciava-se um processo de dependência química que debilitaria a saúde da cantora para sempre.
Em homenagem a Marcel Cerdan, considerado por Piaf o seu maior amor, a cantora dedicou-lhe um dos seus mais belos clássicos, “Hymne à L’Amour”, que ela tinha composto com Marguerite Monnot, e cantado pela primeira em 1949. A música, literalmente um hino ao amor, foi lançada em 1950, registrando o momento sublime da paixão vivida por uma cantora e um pugilista.
O Pequeno Pardal Cala-se Para Sempre
Desde a morte de Marcel Cerdan, arrasada pelo sofrimento, Edith Piaf passou a aplicar no corpo fortes doses de morfinas. O álcool, os barbitúricos, tudo serviu para a debilitação da saúde da cantora, fazendo com que envelhecesse rapidamente aos olhos dos milhares de fãs que a idolatravam pelo mundo.
Em 1952, ela ainda tenta recomeçar a vida amorosa, casando-se com o famoso cantor francês Jacques Pills. Mas o casamento não vai além dos quatro anos, terminando em divórcio, em 1956.
Após o divórcio, um novo amor bateu à porta da cantora, Georges Moustaki, o Jo, que ela lançaria no cenário da música francesa, e de quem gravaria a canção “Milord”. Ao lado de Moustaki, ela sofreu um grave acidente de automóvel, em 1958. Maiores doses de morfina foram aplicadas na cantora, fazendo com que a sua saúde, já bastante debilitada, deteriorasse-se rapidamente, e o seu corpo definhasse.
Mesmo debilitada, doente e drogada, Edith Piaf casou-se com Théo Sarapo, cantor de ascendência grega, vinte anos mais jovem do que ela. Nesta época fez a sua última grande apresentação no Olympia de Paris. Em abril de 1963, ela gravaria a sua última canção, “L’Homme de Berlin”. Logo a seguir, refugiou-se para descansar na Riviera Francesa.
No dia 10 de outubro de 1963, aos 47 anos, morria Edith Piaf, em Plascassier, Riviera Francesa. Coincidentemente, ela faleceu no mesmo dia do seu amigo Jean Cocteau. Encerrou-se naquele dia de outono, uma vida impar, escrita nas profundezas do sofrimento humano e na beleza da arte que movia uma grande mulher.Théo Sarapo transportou o corpo da cantora clandestinamente, da Riviera a Paris, para que os seus fãs pensassem que ela tinha falecido na sua cidade natal. A notícia da sua morte só foi divulgada oficialmente em 11 de outubro, quando o corpo já estava naquela cidade. Embora o arcebispo de Paris lhe negasse o réquiem do funeral, por condenar o estilo de vida da cantora, a marcha fúnebre da sua despedida atraiu milhares de pessoas às ruas de Paris, que marcharam até o cemitério do Père-Lachaise. Desde então, o seu túmulo é um dos mais visitados do mundo. O sepultamento da cantora reuniu cerca de cem mil pessoas. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial que não se assistia a tamanha concentração de pessoas nas ruas de Paris. A cidade despedia-se da sua maior voz, da mais parisiense dos seus mitos, La Môme Piaf. Edith Piaf.
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