Tarde que me remete à lembranças doces e saudosas.
Tardes com minha mãe, tomando um chazinho, ora com bolachas, bolos e guloseimas, ora com pãozinho com
manteiga, tudo regado com repetecos das canecas cheias até a borda.
As conversas eram intermináveis, risíveis ou dramáticas, tudo dependendo do humor dela, que adorando as notícias trágicas do dia a dia, aumentava um ponto na sua narrativa, pontuada de sua própria interpretação da vida.
Hoje me pego na ânsia de contar uma novidade, uma notícia de morte de alguém conhecido de nós duas, uma fofoca divertida ou apenas um relato do dia, mas aí vem a tristeza, como contar , se ela ela já se foi?
A notícia fica na garganta, assim como o soluço de uma dor que não passa.
Ai que saudades das tardes de outono, onde a conversa corria solta e eu, até dava um cano no trabalho, porque a prosa estava boa e, depois do chá batia uma indolência.
Minhas tardes ficaram vazias, sem ninguém pra contar nada, ou jogar conversa fora...
Ouço o teclar furioso de minha filha na internet, alheia aos meus pensamentos, ai de mim se tentar contar alguma bobeira, uma notícia de morte, um comentário de notícia pontuado de emoção própria da suave melancolia de quem se aproxima da meia idade, o outono da Vida.
A vontade de tagarelar fica na intenção, afinal na idade dela, não se tem ouvidos para essas coisas prosaicas.
Olho pela janela e vejo a luz da tarde, como é linda essa luz de Outono, mesmo que seja na cidade.
A natureza, os prédio adquirem um contorno diferente, o verde é mais encorpado, por falta de uma definição melhor, o som dos pequenos aviões voando preguiçosos pelo céu, tornando esse instante deliciosamente agradável e tranquilo, é muito belo e até bucólico.
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