Cinquenta anos, fase muito delicada essa
Vc já passou da metade das páginas do seu livro da Vida, ao menos que vá viver mais de cem anos.
Mas a lembranças lá estão, tão frescas em nosso coração, aquela vontade de voltar no tempo e corrigir as burradas ou de resgatar amores, amizades perdidos no tempo...
Olho no meu álbum de infância e lembro com detalhes como aquelas fotos foram tiradas, a emoção de cada roupa comprada, e a expectativa de como aquela aquisição mudaria a minha vida,kkkk...
Lembro me de quanto eu era infeliz, por pequenas frustrações, mas tb até me assusto com a minha sobriedade, grandeza e coragem para enfrentar passagens muito, mas muito tristes, que hoje, não sei se teria forças.
Ao longo do tempo, tb fui percebendo o quanto nossa vida é feita de ciclos, sejam eles de ordem biológica, emocional ou profissional. Ando meditando sobre cada um deles, e o que tem me chamado atenção, é a "dor" dos ciclos biológicos e no quanto eles nos transformam...
Citando o exemplo da menarca, me lembro da alegria e celebração da minha mãe, qdo eu senti, na rua do meu bairro, a sensação de que algo gosmento e misterioso escorria pelas minhas pernas.
Corremos pra casa, e lá estava meu calção de ed. física, folgado, de algodão vermelho, meio borradinho com a minha primeira menstruação.
Foi uma festa, minha mãe fez um chazinho de erva cidreira bem doce, comi bolo até me empanturrar, e qdo veio a cólica, tomei dipirona, coloquei uma bolsa de água quente sobre o ventre e assisti tv a tarde toda, nem fiz lição naquela dia!!!!
Nisso fui afortunada, nem todas as menarcas são celebradas com tanto entusiasmo, lembro-me até da data, vejam só:08.03.1970!!!!!
Dia Internacional da Mulher, dia esse que sempre me surpreende com novidades de âmbito fisiológico, sexual e de saúde, mistérios femininos.....
as hoje falarei da Menopausa, que ao contrário da Menarca, que me trouxe espinhas, ansiedade, amores platônicos e patéticos, buscas pela felicidade perdida não sei onde, falarei desse Ciclo, a qual defino de Portal.
Esse sim é sinistro, difícil de lidar,pois para mim coincidiu com uma fase de perdas explicando melhor, a morte de minha mãe, que só agora depois de quase três anos, é que estou vivenciando de fato o luto, as dores mais sentidas da perda e a constatação que a morte existe.
Mas voltando ao âmbito fisiológico, me lembrei de um dia chegar ao banheiro de casa e ver minha mãe sentada dentro da banheira, toda ensanguentada, chorando e dizendo que ia morrer, com olhos de pavor e desamparo, é claro que ela não morreu, pois foi "apenas a sua última menstruação", entendida por mim, até com desdém, que todo aquele piti, foi por causa de ignorância, depressão, enfim, despreparo por parte dela, e que eu não ia cair nessa...
O tempo passou, as águas rolaram e tantas coisas boas e dolorosas me aconteceram, até que um dia, eu fui tomada por um fogo da cintura pra cima, um embrulho no estômago e um calor que subia pelo meu colo, rosto e ai para as orelhas e lá queimou por intermináveis minutos, passando em seguida e me trazendo a lembrança do desespero de minha mãe.
Os ciclos foram ficando irregulares, fui à gineco, passei a tomar um remédio à base de isoflavona que me aliviou, mas não deu cabo dos calores.
Se fossem só calores, a gente dava um jeito, mas algo mudou dentro de mim, a alegria( no sentido de leveza) foi embora, passei a ser muito racional, acordando pela manhã com a pergunta : o que estou fazendo nesse mundo, minha existência será só isso? Enfim, é sempre um despertar triste, no decorrer do dia a coisa vai melhorando...
Mas nesse intervalo de tempo, houve uma interrupção no meu ciclo, no dia08.08.2008, lá veio ela, com cólicas e tudo mais...
Passou-se mais de um ano e no dia 23 .09.2009, aí sim tive uma senhora hemorragia que tive que chamar uma ambulância para ir pro hospital, lá fui examinada, e constatado que não havia mioma, pólipos, etc, o médico me dispensou de forma lacônica sem me prescrever nada, quem sabe, pensando algo como: mulher tem cada uma...
claro ele jamais vai vivenciar isso!.
Sai de lá cambaleante com uma toalha encharcada entre as pernas a procura de um taxi, pois não fui dirigindo, e com uma sensação de morte e pavor no meu coração, talvez a mesma que a minha mãe sentiu naquele dia na banheira, e eu, posteriormente desprezei, além de me sentir humilhada e constrangida por estar naquela situação e não ter ninguém comigo.
Minha narrativa não termina aqui, mas vou parar um pouco, pois estou sentindo os calores e vou me banhar. Depois retorno....